OS SÍMBOLOS BÍBLICOS À LUZ DA FILOSOFIA ROSACRUZ
Quanto mais estudamos a Bíblia, em suas origens e finalidades, mais compreendemos que é
chegado o tempo de falar claramente à humanidade, desvendando os símbolos que, durante
séculos, ocultaram as eternas verdades. Necessário se faz, então, possuir uma chave com que as
mentes humanas, já serenas, possam decifrar os mistérios e assim satisfaze r esta ânsia de saber,
hoje tão natural e comum em todos. Esta chave está contida na verdade esotérica que estabelece
as relações de analogia entre o Macrocosmos e o Microcosmos. Um dos mais inefáveis
instrutores espirituais emitiu este mesmo pensamento quanto disse:
“Assim como é acima, também é abaixo”.
Em um princípio, a Sabedoria Divina deu a Seus filhos a verdade sob fórmulas veladas, em forma
figurativa e simbólica, acessível à humanidade infantil. Vemos, por exemplo, no sublime
Apocalipse, cap. VII, vers. 4, a afirmativa que, em todas as tribos, somente salvar-se-ão 144.000.
Neste versículo, muitos pesquisadores e investigadores da Bíblia viram expressada uma idéia
incoerente com a grandeza do Plano de DEUS, pois este não poderia ser tão ilógico que, havendo
bilhões de criaturas em evolução, destas só se salvassem umas poucas!
No entanto, dentro do conhecimento oculto há uma chave que encerra a solução deste simbólico
versículo, de uma maneira muito lógica. Em hebraico, os valores numéricos são representados por
letras. Assim, como neste idioma Adão é ADM, temos que o valor de A é 1, o de D, 4 e o de M,
40. Eis aqui os 144.000. Se, por outro lado, somamos estes valores, temos como resultado 9, isto
é, o número que representa a humanidade. Em outras palavras, o homem Adão, ou seja, toda a
humanidade, será salvo.
Ainda neste capítulo do Apocalipse está simbolizado o Zodíaco, com seus doze signos através
dos quais a humanidade nasce e evolui, quando se lê que todos os filhos de Israel salvar-se-ão,
sendo 12.000 de cada uma das doze tribos.
Eis aqui parte dos mistérios do passado que têm de ser revelados hoje, quando já não é mais
admissível que as verdades permaneçam ocultas por meio de símbolos, e mais quando levamos
em conta que alcançamos uma época de progresso tal que a ciência humana, no campo das forças
nucleares, cria projetos quase ilimitados. Por isso se faz necessário desvendar estes símbolos da
Bíblia, pois, sem dúvida alguma, pelo que encerra a maior parte deles, podemos justificar a antiga
e mística ciência, e também visualizar o futuro da moderna ciência.
O Apocalipse fala-nos também dos quatro poderes criadores, os quatro Anjos que estão nos
quatro ângulos e detêm os quatro ventos. Na Maçonaria, um dos símbolos é o esquadro e, se
seguimos investigando, vemos que este mesmo símbolo já existia na Atlântida, proveniente da
Lemúria, como uma promessa para o futuro. Na época Ária, encontramos como principal
símbolo a Cruz.
Utilizando a analogia como chave para uma análise profunda, vemos que todos estes símbolos se
referem ao estado presente da humanidade que é o mais elevado dos quatro reinos que evoluem
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atualmente no Mundo Físico, e que já adquiriu a cadeia completa de quatro veículos a serviço
do espírito.
Todos estes símbolos, referentes ao estado passado, atual e futuro da humanidade, contêm
esclarecimentos cheios de beleza, harmonia e amor. Em nada a Terra está desprovida e o Criador
coloca sempre Seus sinais no caminho a ser percorrido pelo ser humano para que este, através do
estudo e da devoção, possa descobrir o que é eterno.
Estes simbolismos ocultam em si a ação universal das leis divinas, de tão profundas e
transcendentais conseqüências, e muito nos maravilharíamos se pudéssemos ver como se processa
este trabalho cósmico de remover os obstáculos que o homem cria através de seu mau agir,
dificultando o próprio progresso na Terra. Assim, contemplamos como as forças criadoras que
agem através dos quatro elementos facilitam aos espíritos humanos as condições necessárias
para dar passos mais amplos no campo evolutivo. As imensas crateras que se abriram na Terra no
tempo dos lemurianos e os três grandes cataclismos da Atlântida estão ocultos nos mistérios do
Apocalipse; eles modelaram e produziram as circunstâncias terrenas para que a humanidade
pudesse respirar um ar seco, capacitando-se, desta forma, para adquirir a Mente e completar assim
quatro veículos.
Se nesta investigação entrosamos os mistérios do Apocalipse com o Conhecimento Rosacruz,
vemos por que a Filosofia de Max Heindel está cimentada sobre irremovíveis alicerces. Fala-senos,
nestes versículos, do Anjo que ordena não mais danificar-se a Terra, antes que seja
assinalado na fronte o último servo de nosso DEUS. Na aurora dos tempos, a forma de falar aos
humanos, para poder introduzir neste mundo tridimensional a idéia de verdades ocultas, era
através dos símbolos. Conseqüentemente, hoje se faz muito necessário examinar estes mesmos
símbolos desde vários ângulos, se queremos obter uma compreensão completa e inteligente da
essência que eles contêm. É opinião, sobretudo do materialista, considerar os símbolos como
linguagem do homem primitivo. Entretanto, para fazer um estudo profundo das verdades
suprafísicas, o conhecimento dos símbolos ou imagens nos fala mais intensamente que muitas
palavras.
Através de um profundo estudo do Conhecimento Rosacruz, o ser humano pode, efetivamente,
chegar a compreender, com exatidão, como as forças criadoras da Natureza, que agiram no
passado e no presente, no glorioso plano evolutivo da humanidade, estão simbolizados no
Emblema Rosacruz. Nele, estão representados os quatro reinos em evolução, custodiados pelos
Quatro Anjos do Apocalipse e, se aprofundarmos mais a análise do que está escrito na Bíblia com
relação ao selo na fronte do último servo, vemos que isto se refere a quando o Espírito Uno
obtém seu último veículo, a Mente, e assim se liberta das tutelas externas que o guiavam, isto é,
não mais faz dano Terra.
O selo na fronte, a que se refere o Apocalipse, é o impenetrável ponto espiritual, ou seja, O
Pensador Silencioso, situado no meio das duas sobrancelhas, atrás da raiz do nariz,. É
precisamente neste ponto que existe um potente centro espiritual e, de posse desta verdade, as
principais correntes religiosas seguem o rito de dar um pequeno golpe sobre este local, antes de
declarar que um de seus Patriarcas deixou, pela morte, o Corpo Físico.
Quando o ser humano obtém sua Iluminação Interna, este ponto brilha como uma estrela, da
mesma forma que o Sol da laringe e o maravilhoso olho que tudo vê dos maçons.
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Desta forma, a Filosofia Rosacruz desvenda os símbolos da Bíblia, pois que está em posse do
conhecimento dos mistérios do passado, e tem a luz que esclarece o futuro da Terra e dos
seres que nela evoluem.
*Entendendo a Bíblia
Como entender a Bíblia nos dias de hoje... à luz da Doutrina Espírita!
Muitos entendem que a Bíblia, vista como a palavra de Deus, não pode ser questionada, apenas obedecida.
Mas será que tudo que era bom nos milênios passados continua servindo nos dias atuais? Se há contradições no corpo de uma obra, é coerente aceitá-la cegamente, ao pé-da-letra e em sua totalidade?
É incontável o número de contradições encontradas na Bíblia. Muitos dos que contestam a comunicabilidade dos espíritos, a reencarnação, etc., fazem-no acreditando-se apoiados na Bíblia.
Mas será que é bem assim?
Não há qualquer intenção de denegrir essa obra ou diminuir sua importância como roteiro material e espiritual que conduziu, e ainda conduz o povo israelita, e continua a ser um farol a iluminar milhões de mentes e corações, principalmente no mundo cristão. Mas a verdade, neste caso, deve ser dita com toda clareza, porque só ela tem a força de abrir algemas estruturadas ao longo dos séculos e desfazer cristalizações milenares, numa época em que a razão começa a predominar sobre a imposição.
Muitos entendem que a Bíblia, vista como a palavra de Deus, não pode ser questionada, apenas obedecida.
Sabemos que o ser humano evolui com o passar do tempo. A mentalidade da humanidade, hoje, é bem diferente daquela que marcou os séculos e os milênios passados. É a força da vida impulsionando a criatura para frente, modificando sua ótica, seus enfoques, seus conceitos, suas concepções. É como alguém que vai subindo pelas encostas de uma colina; quanto mais sobe, mais vasto vai ficando o horizonte que sua vista alcança.
Será que tudo que era bom nos milênios passados continua servindo nos dias atuais?
Certamente, não.
Exemplo disso temos nas leis do Antigo Testamento, das quais apenas umas poucas podem ser aplicadas na atualidade.
Na Bíblia encontramos dois tipos de mentalidade: as duras leis de Moisés, cobrando "olho por olho e dente por dente", e o Evangelho onde Jesus recomenda perdoar as faltas alheias de forma incondicional; amar a Deus, em vez de temê-lo; amar o próximo como a si mesmo, e praticar o bem em todas as suas expressões.
As leis de Moisés eram adequadas e corretas para educar aquele povo rude e indisciplinado, em suas fases mais primárias. Já as que foram trazidas por Jesus, mostram o amor e o perdão, além de vários outros valores, como atitudes a serem aprendidas e praticadas.
Pergunta Freqüente
Se as religiões judaico-cristãs têm suas bases assentadas na Bíblia, qual delas está com a verdade, já que todas possuem argumentos que entendem serem os mais fortes?
Vamos raciocinar um pouco?
Se você estiver elaborando seu orçamento doméstico e alguém lhe afirmar que 5 mais 3 são 11, o que fará?
Vai aceitar esses valores como certos, só porque alguém em quem você acredita disse isto, ou irá fazer a conta para ver se aquela afirmação está correta?
Se aceitar simplesmente o que lhe dizem, sem nada questionar, você se arrisca a ter grandes problemas em sua vida.
O mesmo acontece com relação às religiões. Cada uma diz que está com a verdade, embora todas pensem diferentemente umas das outras.
Que fazer então, para encontrar a verdade religiosa?
Certamente o mesmo que você faria para encontrar os valores reais para o seu orçamento: calcular, analisar, questionar, usar a razão e o bom senso.
Então, temos o seguinte:
Se fossemos obedecer tudo que manda a Bíblia, principalmente as leis de Moisés, teríamos de:
a) Matar os filhos que nos faltassem com o devido respeito. Esse mandamento está em Êxodo 21:17.
b) Executar sumariamente todos que alguma vez tivessem relações sexuais com outra pessoa que não o seu cônjuge. Esse mandamento está em Levítico 20:10.
c) Matar tanto o homem quanto a mulher que tivessem relação sexual estando ela menstruada. Esse mandamento está em Levítico 20:18.
d) Executar todo aquele que fizesse qualquer atividade no dia de sábado. Esse mandamento está em Êxodo 20:8 a 11 e Levítico 23:3.
e) Matar a quem ingerir sangue. Esse mandamento está em Levítico 7:27.
Essas são apenas algumas das muitas situações para as quais as leis do Antigo Testamento determinam pena de morte: Se não acredita, pode conferir na Bíblia.
Seus cinco primeiros livros são conhecidos como o Pentateuco. Neles é narrada a criação da Terra, de Adão e Eva, e a saga de parte da sua descendência até a chegada do povo israelita às vistas da terra prometida, e a morte de Moisés. Trazem também as leis, desde os dez mandamentos, recebidos no monte Sinai, até às mosaicas, ou leis de Moisés, assentadas no princípio olho por olho, dente por dente.
É fácil entender porque Moisés estabeleceu leis com penalidades tão severas. Elas eram necessárias para disciplinar aquela gente de índole rebelde. Tamanho rigor podia também justificar-se pelo fato de não haver prisões, e por isso, para um povo nômade, que vivia a peregrinar pelo deserto, não era possível escalonar castigos proporcionais à gravidade dos delitos.
As leis de Moisés, como se pode facilmente perceber, eram normas temporárias, elaboradas para um povo, num determinado momento de sua história. Só que hoje, no mundo moderno, uma parcela da humanidade ainda guia-se por elas. É por isso, por essa fuga à realidade, que há tanta confusão religiosa no mundo ocidental.
Isto ocorre porque a mente humana vem sendo condicionada desde a sua pré-história a obedecer cegamente a líderes que se apresentam como representantes da divindade, esse algo misterioso, muitas vezes assustador, e que se acredita ser o mandante de castigos e também doador de benesses. Com isso, as gerações foram se acostumando a obedecer cegamente suas religiões, sem nada questionar.
Mas quem deseja abandonar esse status quo, sair dessa condição de rebanho, assumir a realidade que a evolução possibilita, encontra sempre grandes dificuldades interiores, e o medo de estar dando um passo errado e por isso ser castigado. E essas dificuldades se multiplicam quando irmãos de outros credos se põem a pregar, afirmando de forma incisiva e veemente as suas crenças.
Os longos condicionamentos psicológicos são muito difíceis de ser erradicados. Também por isso entendemos ser necessário tratar deste assunto, mesmo de forma superficial. Isto é importante para que não restem dúvidas sobre questões levantadas por irmãos de outros credos, em seu combate às idéias espíritas, e que para isso se apegam a determinada norma estabelecida por Moisés para o povo israelita, como por exemplo, a comunicação com os espíritos.
É importante para quem está procurando, poder fazê-lo com a mente livre dessas amarras milenares. E é justamente esse conhecimento que irá liberá-lo de possíveis sentimentos de culpa, para que possa, com a alma leve e o espírito tranqüilo, iniciar uma nova etapa na busca da verdade, a procura de Deus.
Mas isto absolutamente não significa que estejamos amesquinhando o papel da Bíblia, ao contrário. Seus ensinamentos morais têm sido o farol a iluminar o povo israelita e todos os povos cristãos, sem falar no Evangelho, esse roteiro de luz que chegou ao mundo como o maior dos sorrisos na história do pensamento humano.
Entre as centenas de leis estabelecidas por Moisés vamos encontrar também aquela que proíbe a consulta aos mortos, e que diz assim: "Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações. Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador de encantamentos, nem quem consulte um espírito adivinhante, nem mágico, e nem quem consulte os mortos, pois todo aquele que faz tais coisas é abominação ao Senhor" (Deut. 18:9 a 14).
O escritor Jaime Andrade, no livro O Espiritismo e as Igrejas Reformadas, referindo-se a essa lei de Moisés, diz: "Vê-se que a proibição tinha por escopo evitar que os israelitas se contaminassem com as práticas supersticiosas e idólatras dos povos bárbaros que deveriam conquistar. O que também prova que aqueles povos tinham por hábito consultar seus mortos".
Como os ataques são dirigidos principalmente ao Espiritismo, ao contrário do que muitos acreditam, essa doutrina nada tem de comum com as práticas proibidas por Moisés. As comunicações com os espíritos que acontecem sob a sua égide não são consultas, porque elas têm a finalidade de ajudar os que estão sofrendo, esclarecer os obsessores no intuito de levá-los a abandonar idéias de vingança e deixar de perseguir seus desafetos. As comunicações dos espíritos mais evoluídos visam sempre o bem comum, o esclarecimento, as exortações para a prática dos ensinamentos de Jesus, o amor posto em ação.
E lembramos o que Jesus disse, em Mateus 7:16 e 17: "Pelos frutos os conhecereis" e "Toda árvore boa produz bons frutos e toda árvore má produz frutos maus".
Na verdade, os frutos do Espiritismo são todos bons.
Mas é indiscutível que a Bíblia deve ser considerada um livro sagrado, pelos extraordinários valores éticos e religiosos que apresenta, mas nem por isso se deve aceitar cegamente tudo que ela diz. O bom senso não permite ignorar as inúmeras contradições e incoerências que são encontradas em seu corpo, particularmente no Antigo Testamento.
E para que as coisas fiquem claras e não restem dúvidas, vejamos em primeiro lugar algumas de suas contradições:
1 - A primeira se encontra logo no primeiro capítulo de Gênesis, com a criação das noites e dias, a separação das águas, a produção de relva e árvores frutíferas que davam frutos e sementes, para só depois, no quarto dia, serem criados o sol, a lua e as estrelas. Como poderia haver noites e dias, plantas frutificando, sem o sol?
2 – A humanidade inteira, durante milênios e até hoje, estaria pagando pelos pecados de Adão e Eva, embora Deus tenha afirmado em Ezeq. 18:20, Deut. 24:16, Jer. 31:29/30, que os filhos não pagam pelos pecados dos pais, nem o justo pelo pecador. E se o justo não paga pelo pecador, por que Jesus teria morrido na cruz para pagar pelos pecados da humanidade?
3 – Em Êxodo 9:1 a 7 vemos Deus mandando uma praga que matou todos os animais dos egípcios, inclusive os seus cavalos, mas dias mais tarde a cavalaria egípcia é afogada no Mar Vermelho. Que cavalaria, se todos os cavalos tinham sido mortos com a praga?
4 – Como poderíamos conciliar (Ecles. 9:15) que diz: “Os vivos sabem que hão de morrer mas os mortos não sabem de cousa alguma”, com a parábola sobre o rico e Lázaro (em Lucas 16:23); ou com a cena em que Moisés e Elias (mortos há séculos), conversaram com Jesus no monte, na presença de três apóstolos (Lucas 9:30), ou ainda, com a entrevista que teve Saul com o espírito de Samuel, já que este estava morto? (1o Samuel 28:11/20).
5 - Em Oséas 6:6 Deus diz: "Misericórdia quero e não sacrifícios e o conhecimento de Deus mais do que holocaustos". No entanto, Ele próprio ordena oferendas, holocaustos e sacrifícios pelos mais insignificantes delitos... E não só pelos delitos, mas também por uma infinidade de comemorações e obrigações.
Questionamento para Reflexão
Se há contradições no corpo de uma obra, é coerente aceitá-la cegamente, em sua totalidade?
Mas no Novo Testamento também há inúmeras incoerências e contradições, como, por exemplo:
a) João afirma: "Se dissermos que não temos pecado, não existe verdade em nós" (1o João, 1:8), mas no cap. 5:18 ele mesmo afirma que "quem é nascido de Deus não peca".
b) Em 1º João 2:2 lemos: "Jesus é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos mas ainda pelos pecados do mundo inteiro", mas logo adiante, no capitulo 5, vers. 19 contradizendo o que dissera, voltamos a ler: "Sabemos que somos de Deus, e que o mundo inteiro jaz no maligno".
c) Também os apóstolos nunca se entenderam quanto ao instrumento da salvação, se seria a graça, as obras ou a fé.
d) E lembramos ainda Jesus quando disse: "Não acabareis de percorrer as cidades de Israel, sem que venha o Filho do Homem" (Mateus 10:23), "Alguns dos que aqui estão não verão a morte sem que vejam o Filho do Homem no seu reino" (Mateus 16:28), e, falando sobre o que é interpretado como sua segunda vinda, afirmou que não passaria aquela geração sem que tudo se cumprisse.
Mas é bom lembrar que os Evangelhos foram escritos muitos anos depois da morte de Jesus, foram copiados e re-copiados milhares de vezes, sofreram inúmeras traduções, interpolações, interpretações e até mesmo modificações e enxertos em seus textos, visando acomodá-los às idéias e interesses da Igreja. Como exemplo podemos citar a guarda do sábado, que foi simplesmente transferida pela Igreja para o domingo.
Também há grandes contradições entre o Velho Testamento, os Evangelhos e as Epístolas. O conteúdo da mensagem de Jesus está integralmente calcado na mais perfeita justiça, na mansuetude, no perdão e no amor. Já o discurso de alguns dos fundadores do cristianismo difere essencialmente dos ensinamentos de Jesus. Por exemplo: o Mestre coloca o amor e a prática do bem, como condições únicas para se alcançar o reino de Deus. Já Paulo afirma que a salvação vem apenas pela fé. Diz ele: "Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei" (Rom. 3: 28).
Enquanto isso outros apóstolos ensinam que a salvação é pela graça e outros ainda, afirmam que é pelas obras. Como se vê não existe consenso em seus ensinamentos, ou seja, apresentam contradições.
E essas contradições acabaram por produzir centenas de religiões que interpretam a Bíblia, cada qual à sua maneira.
O que mostramos até aqui é apenas um fração de todas as contradições e incongruências que podem ser encontradas na Bíblia. Alguém que queira aprofundar-se mais encontra farta bibliografia a esse respeito, como por exemplo, no livro já citado O Espiritismo e as Igrejas Reformadas.
Mas é possível encontrar explicações para algumas dessas contradições, principalmente as do Novo Testamento.
O conceituado escritor Carlos Torres Pastorino, diplomado em Filosofia e Teologia pelo Colégio Internacional S. A. M. Zacarias, em Roma, e Professor catedrático no Colégio Militar no Rio de Janeiro, no livro Sabedoria do Evangelho diz:
"Os primeiros exemplares do Novo Testamento eram copiados em papiros (espécie de papel), material frágil e facilmente deteriorável. Mais tarde passaram a ser escritos em pergaminho (pele de carneiro), tornando-se mais resistentes e duradouros.
Os manuscritos eram grafados em letras "capitais" ou "unciais" (ou seja, maiúsculas). Só a partir do 8º século passaram a ser escritos em "cursivo" ou letras minúsculas.
Os encarregados de copiar os manuscritos eram chamados copistas ou escribas. Mas nem sempre conheciam bem a língua, sendo apenas bons desenhistas das letras. Pior ainda se tinham conhecimento da língua, porque então se arvoravam a "emendar" o texto, para conformá-lo a seus conhecimentos.
Não havia sinais gráficos para separação de orações, e as próprias palavras eram copiadas de seguida, sem intervalo, para poupar o pergaminho que era muito caro. Daí inúmeros recursos empregados, como por exemplo, as abreviaturas, as interpolações e muitos outros, que acabavam mudando os textos originais. Há também a questão das traduções, das inserções e modificações que foram feitas ao longo do tempo para atender a diferentes interesses."
Também a isto se devem algumas das contradições e muitos trechos de quase impossível entendimento racional.
No livro citado anteriormente, Torres Pastorino transcreve um texto de Orígenes, considerado um dos maiores exegetas (estudioso e intérprete de textos bíblicos) que, referindo-se às cópias do Novo Testamento, diz: "Presentemente é manifesto que grandes foram os desvios sofridos pelas cópias, quer pelo descuido de certos escribas, quer pela audácia perversa de diversos corretores, quer pelas adições ou supressões arbitrárias".
Fica assim bem claro que o Novo Testamento que hoje lemos sofreu infinitas modificações, não sendo possível, portanto, aceitá-lo "ao pé da letra".
Pergunta Lógica
Existe alguma religião ou doutrina que possa ser seguida cegamente, sem questionamentos, sem usar a razão, o bom senso?
Certamente, não.
Vamos então concluir a análise desta questão, com lógica e bom senso.
Para que a verdade plena estivesse na Bíblia, esta teria de ser absolutamente coerente, sem contradições e estar de acordo com a razão, porque as contradições no corpo de uma doutrina fragilizam a sua credibilidade.
Muitos dizem: "A Bíblia é a palavra de Deus e precisa ser obedecida e não compreendida".
Mas se Deus nos deu o raciocínio e um pouco de sabedoria, é para podermos discernir em nossa busca pela verdade. E lembramos que Jesus afirmou: "Conhecereis a Verdade e ela vos libertará". Com isso Ele deixou claro que veio nos ensinar uma ética de vida, como realmente o fez, mas a Verdade (ou mais uma parte dela) viria mais tarde, quando o ser humano já estivesse bastante amadurecido para entendê-la e poder, assim, libertar-se dos condicionamentos milenares a que se encontra algemado.
Além disso, para ser a "palavra de Deus", a Bíblia teria de ser absolutamente coerente e vazada em todo o seu corpo na mais perfeita justiça, ética e amor, tendo em vista que deve refletir as qualidades d'Aquele que o teria escrito ou ditado.
Assim, o bom senso nos diz que a verdade plena está apenas com Deus.
Só Ele tudo sabe.
Sendo assim, nós só temos dela vislumbres... E é por isso que brigamos e até desencadeamos guerras sangrentas, porque cada qual entende ser o dono exclusivo da verdade, quando realmente só tem dela alguns fragmentos.
